Capítulo -- 02
(Neste
momento, entra Mariazinha com bandeja de café e biscoitos e ele em total falta
de educação pega logo a mão cheia de biscoito e coloca muito de uma só vez na
boca, estava com uma fome danada, e acaba se engasgando).
Rosinha -
Você não precisa ter pressa pra comer, lá na cozinha tem mais, e se acabar, a
empregada pode fazer mais o tanto que você quiser, comendo assim com essa
pressa toda você pode até passar mal.
Zé Jacinto
- Ocê me adiscurpe, é que o biscoito tá muito bão, e tamém tô muito neivroso,
tô cumêdo de cunversá com sô Zeca, vosso pai.
Num sei se
ele vai gostá da cunversa, essa historia de casório deixa agente sem pensá
dereitio!... (impaciente) E seu pai que nunca que vem!...
Rosinha -
Procure se acalmar, assim você não vai conseguir falar nada, você ta tremendo,
e o pai ainda nem chegou.
Zé Jacinto –
(com os olhos estatelados, fala atropelando as palavras) Eu acho é que vou
imbora, num vou sabê falà o que tem de si falá. (nisto o senhor Zeca acaba de
entrar)
Senhor Zeca
- Olá Zé Jacinto, como vai, está vermelho assim, por quê?
Rosinha -
Ele botou muito biscoito na boca e acabou se engasgando.
Senhor Zeca
- Então precisamos fazer alguma coisa (pega o Zé Jacinto de jeito e dá tanto
tapa nas costas dele, o sacode tanto que ele acabou urinando na roupa, aí é que
complicou mais a sua situação, porque na tentativa de esconder a calça molhada
ele fica cruzando as pernas todo desajeitado)
Zé Jacinto
- Chega, chega o biscoito já desceu pru bucho, mas, moiei a roupa toda e agora,
que o sinhô num vai nem querê falà cum eu.
Eu vim aqui
pra mode cunversá cum sinhô, a respeito do casório cum sua fia, Pra mode
adiantar a data do casório. (Ele está achando que agora está rico com a venda
das mandiocas).
Senhor Zeca
- Você tem certeza que quer mesmo se casar com ele, minha filha? Pelo que sei,
ele agora está mais pobre que Jó.
Rosinha -
Não, meu pai, ele vendeu o mandiocal que o pai dele deixou de herança pra ele.
Senhor Zeca
- É o que ele disse; as mandiocas não eram tantas assim, e além do mais, o
pouco que vendeu não recebeu.
Pois o
sujeito que comprou dele as mandiocas, logo que apurou o dinheiro com a venda,
deu no pé e nem deixou rastos, sumiu, ninguém sabe ninguém viu!...
Zé Jacinto
- Eu num sabia disso, se é assim eu num sei nem mai o que falá.
Rosinha - E
nem precisa falar mais nada, se for pra eu esperar você melhorar de vida, eu já
vou estar velhinha, e eu não quero ficar moça velha sem casar, pois você sabe
muito bem que depois que agente fica velho, ninguém mais interessa por
casamento. Ficar velha e encalhada? Comigo não violão!...
Senhor Zeca
- Mas, minha filha, você não gosta dele?
Por causa
de dinheiro você não precisa desistir do casamento, o que temos dá pra todos
nós, e além do mais são mais dois braços para ajudar nas tarefas da fazenda.
Zé Jacinto
- Adispois do que ela falou, quem num qué mais sô eu, se o sinhô quizé eu caso
com a mais nova eu gostei dela tamém.
Se o sinhô
aceitá, eu prometo trabaiá na fazenda iguar a um escravo.
*Naquela
época os pais quando arranjava um pretende para as filhas, ficavam muito
satisfeitos, pois era mais um pra enfrentar a dura luta da fazenda, e ele não
queria perder aquela oportunidade, afinal de contas o Zé Jacinto era gente boa
e forte, agüentava o tranco*
Senhor Zeca
- Aqui ninguém é escravo, todos têm liberdade de fazer o que quiser, até de ir
embora se quiser. Eu não posso te adiantar nada sem primeiro falar com ela.
Rosinha -
(procurando uma oportunidade para se retirar, logo se prontifica em ir
chamá-la)... Vou chamá-la meu pai.
*Depois de
alguns minutos*
Mariazinha
- Mandou me chamar meu pai?
Senhor Zeca
- Sim minha filha, o Zé Jacinto acabou de pedir sua mão em casamento, o que
você acha. Você!...
Mariazinha
- Precisa nem terminar, eu aceito (pausa) e a Rosinha que estava tão animada
com este casamento, desistiu?
Zé Jacinto
- É... Nóis terminemo, num ia dá certo mermo, a Rosinha é muito assanhada, e se
ocê quiser nóis casamo, inté agora se ocê quisé.
Mariazinha
- É!... Você é bonito e não é de se jogar fora é uma pena ser tão bobão, mas eu
aceito assim mesmo, assim fica mais fácil mandar em você, eu mando e você
obedece se quiser é assim.
Zé Jacinto
- Por ocê eu faço quarqué coisa.
Senhor Zeca
- (interfere) Não!... Não é justo, sei que está difícil arrumar um pretendente
pra vocês, mas assim também não.
Já tomei a
decisão, não vai mais haver nenhum casamento, você é de boa família, mas, é
muito simples, se acontecer o casamento com qualquer uma delas.
Não vai
demorar muito ela estará de volta pra casa, e quem sabe até de barriga cheia,
pra nos dar problema maior, antes que o mal cresça, corta-se a cabeça.
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*Neste
momento entra em cena um dos paus mandado do Juiz ou Coronel, como ele gosta de
ser chamado, com uma intimação para o Senhor Zeca comparecer com urgência a
delegacia, pois o Juiz quer falar com ele.*
----------- EJO ---- Continua
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